Sobre a obra
O MURAL
Executado entre outubro de 83 a dezembro de 85, visualiza de forma global a experiência inaciana.
O autor lança mão, após a experiência dos 30 dias, de suas “anotações”, traduzindo-as em linguagem simbólica alternando alegorias e realidades criando efeitos surreais e barrocos para no “uso da imaginação” fazer “composição de lugar” comuns à linguagem dos EE.
Tendo por horizonte, em especial o Evangelho joanino e o profeta Ezequiel, mais do que expor a sequência das etapas, quer o autor estabelecer uma composição estética de uma experiência espiritual. Age livremente dentro do contexto inaciano (Anot. 18) para dizer do itinerário da criatura em direção ao Criador ao longo da História.
Todo o conjunto se orienta ao Cristo – Luz das Nações (Is. 42, 7-8 – texto no rolo ao centro do mural) – centro cósmico da criação no “hoje” de cada criatura (figura no início sobre o xadrez). Um Cristo que passa pela história humana levando-a à plenitude (Ap. 21, 10-11 – fim do mural) – visão esplendorosa e consumação de tudo.
Sem apresentar a imagem do Cristo, o planejamento gráfico tem o sentido cristológico da história em concordância com o projeto salvífico do Criador (o horizonte ao longo do mural) e um sentido eclesiológico o crismón da barca, na cena final – Mc. 4, 35-41 (Passar a outra margem).
O Padre Simon Decloux, sj, quando visitador do Padre Geral, depois de contemplar o mural
exclamou: “Deus faz maravilhas! Essa obra é única pois jamais vi na Companhia de Jesus algo igual, uma expressão de arte da totalidade dos EE”.
O PROCESSO CRIATIVO
Para o planejamento gráfico do projeto usou-se do “Princípio Vitrúvio”, uma relação de aplicação universal para regular a proporção da forma envolvente com todos os elementos nela contidos. Isto propicia um rendimento máximo em qualquer composição criativa no uso do espaço, criando divisões sem a perda da unidade possibilitando “movimentos” entre vários pontos de atração visual, desenvolvendo uma mensagem determinando o interesse.
Partindo da diagonal do piso da capela, alguns cálculos determinam um número N que vai corresponder à altura do mural em questão em proporção ao espaço da capela e ao comprimento da parede. Estabelecido um retângulo este age harmonicamente proporcional ao campo visual de quem o contempla.
Novas subdivisões internas determinam duas linhas de força interagindo, uma horizontal a que se deu o nome de LINHA DA HISTÓRIA e uma vertical, RUPTURA (onde situa-se a espada). O ponto de interseção é o PONTO FOCAL de toda a composição. Os dois retângulos assim obtidos se submetem ao mesmo processo, criando novos campos de atração. Todas as formas se orientam amarradas a uma estrutura proporcionando um equilíbrio formal mas provido de animação e liberdade traduzindo uma intenção.
Esta estrutura está pensada em função dos EE. Que se movimenta em três vias: Purgativa – Iluminativa – Unitiva. Funciona à guiza de alicerce onde as etapas do processo inaciano se erguem. Cada espaço do mural corresponde proporcionalmente a um tempo dos Exercícios.
Para orientação, um esquema gráfico facilita a leitura da obra sugerindo caminhos, porém jamais obrigando. Toda ARTE possibilita ao olhar contemplativo um momento de LIBERDADE na experiência estética abrindo-se ao espiritual.
CHAVES DE LEITURA
PONTO FOCAL
– O Cântico da Espada (Ez. 21, 13-22)
É o princípio da responsabilidade individual e da solidariedade de todos com JAHWEH.
– Quero e desejo – EE 98.
I - CRIAÇÃO
Texto Básico – Prólogo de S. João e Prov. 8, 23-23.
Reflexão na esfera da ação criadora de Deus – O TRABALHO DIVINO – como fator de crescimento e de dignidade para o SER HUMANO: AMOR por
PRINCÍPIO; LIBERDADE por fundamento.
Apresenta as três partes do “Fundamento” – INDIFERENÇA ou estar dócil e transparente à ação do Espírito; SALVAÇÃO – libertar-se das amarras interiores, girando o olhar para a luz que vem
do alto; MAGIS – trabalhar para servir a criação e a vida.
II - ENCARNAÇÃO
A unidade Trinitária que se expande na Humanidade (MARIA) superando o que o pecado dividiu.
Textos: Jo. 3, 13-21; 31-36
III - RESSURREIÇÃO
Das tramas da intolerância (colunas romanas, pórtico de Salomão) ao túmulo vazio, a ausência e o silêncio de Deus serão compreendidas na LUZ do Espírito.
Textos: Jo. 19, 12-24; 38-42;
20, 1-10.
Entre I e II situa-se a queda da humanidade, o Pecado, aqui representado no “dragão” – força inferior, disgregação (Autob. 19-20). Ponto de partida de uma faixa sombria ao longo do eixo da História, sendo bloqueada pela “pedra do túmulo vazio” – Vitória sobre a Morte.
- Inferno – inspirado nas figuras de G. Doré para “Divina Comédia” de Dante. Os nove círculos infernais surgem nas representações da solidão-revolta-inveja-desilusãoarrogância-obsessão-ira-desespero e vergonha, atributos dos condenados.
- Entre a solidão e a vergonha coloca-se os dois caminhos (Sl.1) – A busca da salvação (EVA) ou retorno à decadência (apego à terra).
- Reino onde impera a Morte, reconstituindo o Caos.
- Profecias – Ez.1 – visão da Glória do Senhor que reina próximo de seu povo exilado – FIDELIDADE;
- Is. 42, 7-8 – Misericórdia do Deus Salvador (Pergaminho);
- Jo. 1, 26-29 – O Precursor.
Do anúncio à Teofania (Transfiguração) uma diagonal marca o SIM de Maria.
Ao lado de uma criança morta de fome (Etiópia em 25. de dez. 84. Foto Sigma) atualiza a matança de inocentes e alude ao Sonho de José (crânio).
Entre II e III uma condensação em paralelismo ilustra a vida pública de Jesus em sete momentos (ciclo completo):

A ELEIÇÃO constitui um elemento essencial nos Exercícios (169) – DIACONIA > Missão universal para servir como resposta ao chamado divino – Jo. 13, 12-17.
A ELEIÇÃO se faz junto à CRUZ – COMUNHÃO.
O HOMEM NOVO contempla a CRIAÇÃO – retorno às origens – e eleva a Deus Trino um hino de louvor (Ef. 1, 3-14).
Os dons e os bens do INFINITO AMOR (EE. 237).
A LUZ do entendimento e a FONTE da sabedoria colocam a CRIATURA na intimidade do CRIADOR.

